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quarta-feira, 22 de julho de 2009

LUIZ FERNANDO CARVALHO



Crítico do baixo padrão criativo da TV brasileira, ele lança em DVD a minissérie Capitu

Sérgio Rodrigo Reis - EM Cultura



LUIZ FERNANDO CARVALHO, upload feito originalmente por photos.elainecristina.

O diretor de televisão e cineasta Luiz Fernando Carvalho volta ao cinema em breve. “Estou trabalhando numa adaptação de um texto da literatura brasileira”, conta o realizador de Lavoura arcaica e de minisséries televisivas de grande impacto estético, também inspiradas em clássicos literários. E o melhor: ele adianta que a ideia, que deverá sair do papel em breve, terá Minas como pano de fundo. “Começo a produção de um projeto no segundo semestre em Belo Horizonte, com talentos locais. Não será cinema, nem televisão, nem dança, nem artes plásticas, nem tampouco um festival. A estreia será ano que vem”, conclui ele, em tom de segredo, sem deixar escapar mais nada sobre o projeto. Luiz Fernando já tem boas relações de trabalho no estado com o Grupo Galpão, o Giramundo e com o compositor Marco Antônio Guimarães, que integraram projetos realizados por ele para o cinema e a TV.

Conhecido pela busca de linguagem diferenciada nas produções para a televisão – como nas minisséries Os Maias, da obra de Eça de Queirós; A Pedra do Reino, adaptação do romance épico de Ariano Suassuna, e, mais recentemente Capitu, inspirado no clássico Dom Casmurro, de Machado de Assis –, Luiz Fernando assume os riscos que corre na experimentação estética. Porém, justifica que por trás de tudo está a busca pela comunicação, com utilização de um meio mais popular. “Minha função é procurar oferecer ao homem mais comum a possibilidade de conhecer um conjunto vasto de expressões, por meio da fotografia e de textos literários, sempre com mais qualidade”, assume.

O diretor confessa que, dentro da estrutura da televisão de massa, luta contra uma espécie de controle produzido pela indústria cultural contra a imaginação, principalmente do homem simples, aquele incapaz de se contrapor ao que lhe é imposto. E esclarece: “Não sou contra o lixo da TV. O lugar dele é lá. Porém, não vejo a televisão somente como uma lixeira. É também espaço onde é possível equilibrar uma mercadoria com mais qualidade”, pondera. Seus projetos na televisão, alguns incompreendidos por parte da crítica e do público, vão nesta direção e seguem uma cartilha particular de procedimentos, opções estéticas e pouquíssimas concessões.

Ao contrário da maioria dos realizadores na TV aberta, que se aliam a projetos pautados pela audiência, Luiz Fernando não tem os dados do Ibope como objetivo final. Ao realizar suas produções ele tenta difundir sua maneira de ver o mundo. “Desejo uma televisão que dialogue com os sentidos. E na qual o homem comum, esquecido e abandonado em todas as questões, tenha o mesmo acesso à cultura. Por que não pode?”, pergunta. Nem sempre, a julgar pela repercussão dos seus últimos projetos, seu objetivo é alcançado em plenitude. O diretor sofre na própria pele os efeitos.

“Infelizmente, o telespectador de hoje é formado por um padrão hegemônico de linguagem. Isso não quer dizer que tentativas como as minhas e de outros realizadores, como Fernando Meirelles, em Som & fúria, não sejam vitoriosas”, argumenta. Esse tipo de produção poderia estar mais ajustado à audiência, na sua visão, se, no decorrer das décadas, a criação audiovisual como um todo (inclusive o cinema) não tivesse baixado tanto o nível da linguagem em troca de retorno comercial. Se o espectador tivesse sido exercitado de outra maneira, de acordo com Luiz Fernando, teríamos não só uma audiência maior para produções estéticas diferenciadas, como um país melhor e mais acessível ao novo.

Seus trabalhos na telinha se erguem na contramão da tendência de mercado. “Estou sempre a um passo do precipício: ou caio ou voo. Meus trabalhos se erguem na linha do risco, sempre parto de perguntas, de tentativas, não sigo fórmulas. Sou artista. Parto de uma página em branco e cada projeto surge de uma necessidade de expressão.” Não faltam novas ideias. Contratado da Rede Globo até 2012, atualmente, torce para que o Projeto Quadrante de adaptações literárias para a televisão (que deverá levar à telinha os contos do mineiro Luís Ruffato) continue. “Estão me propondo uma revisão no modelo de produção, não uma revisão artística. No momento, continuo escrevendo outros projetos para a Globo. Estou honrando meu contrato como diretor”, afirma, sem esconder a tensão existente.

Globo/Divulgação Drama da dúvida: Capitu (Maria Fernanda Cândido) e Bentinho (Michel Melamed) em cena da minissérie baseada na obra de Machado de Assis

EXPERIMENTOS VISUAIS

“Os olhos de uma cigana oblíqua e dissimulada.” Assim o escritor Machado de Assis definia uma de suas principais personagens, Capitu, do romance Dom Casmurro, que foi transformado em minissérie pelas mãos de Luiz Fernando Carvalho. Mais uma vez, os ingredientes que o notabilizaram foram destaques do projeto: experimentação estética, busca por novos meios de comunicação com o público e, acima de tudo, tentativa de propor algo diferente diante da mesmice que impera na televisão. O projeto foi bombardeado pela crítica com opiniões diversas. Mesmo com a audiência, que, segundo o diretor, ficou acima da atual Som & fúria – que está sendo recebida com mais simpatia pelo mesmo segmento de opinião –, o projeto de Luiz Fernando parece ter sido em parte incompreendido. O lançamento em CD e DVD pode ajudar a colocá-lo no lugar merecido.

Na minissérie, Luiz Fernando mantém a dúvida sobre a possível traição de Capitu. Aliás, a dúvida é a personagem principal. Paira no ar a desconfiança do marido Bentinho, o ciúme, as alucinações que o sentimento causa e a cegueira. O efeito das incertezas no imaginário de Bentinho, interpretado de forma excepcional pelo ator Michel Melamed, é devastador. Ele se torna cada vez mais casmurro (fechado e arredio) e doente da própria imaginação. Será que tem razão? Luiz Fernando não esclarece. Deixa o telespectador tirar as próprias conclusões, mantendo a beleza da narrativa de Machado de Assis em meio a muitos experimentos visuais, cênicos, dramatúrgicos e sonoros.

O DVD, com dois discos e quatro horas e meia de duração (vendido em média por R$ 65), além do programa que os telespectadores assistiram na telinha, chega com imagens de bastidores. Traz cenas inéditas, como trechos das oficinas teóricas de preparação do elenco e dos demais profissionais envolvidos no projeto, bem como cenas das palestras da psicanalista Maria Rita Kehl (sobre o universo feminino) e do escritor e jornalista Daniel Piza, autor da mais recente biografia de Machado de Assis. Já o CD, a partir da ópera-rock construída para a trilha sonora do programa, tem composições originais de Tim Rescala e Chico Neves, além de canções do grupo Manacá, que tem como vocalista Letícia Persiles, a intérprete da jovem Capitu da minissérie.

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26/10/2008 free counters

Nome de Código: Sintra


Uma série que recria todo o universo queirosiano


A RTP transmite esta série baseada na obra homónima de Eça de Queiroz, um romance policial, uma crítica de costumes e uma acutilante análise da sociedade portuguesa do séc.XIX, que assim contém todos os ingredientes queirosianos.

A acção começa com os preparativos para o jantar de comemoração do 50.º aniversário de Manuel Silveira, deputado. Teresa é incansável na gestão dos mesmos, enquanto Manuel oferece a si mesmo um presente mais a seu gosto: os favores sexuais da criada Amélia. No jantar, cujos preparativos Teresa organiza meticulosamente, estão as três filhas, Inês (a mais nova), Carolina e Mariana, o marido desta, Francisco, o irmão Duarte e o namorado de Carolina, João Dâmaso. A tensão entre os elementos da família anuncia-se através de vários pormenores. É notória a austeridade de Teresa, o cinismo de Manuel, a desconfiança de Duarte, a ambição de João Dâmaso, a submissão de Carolina, a irreverência de Inês, a paciência de Mariana e a estupefacção de Francisco perante uma família que se revela. Não obstante todas as tensões latentes, Teresa faz questão de encenar a farsa da família unida.
O verniz acaba por estalar com a chegada inesperada de Gonçalo, filho de Isabel, que não vive na Quinta desde a adolescência. Não tendo sido convidado para o jantar por Teresa, Gonçalo é um homem divertido mas sem qualquer respeito pelas regras sociais. As suas observações chocam a família, particularmente Teresa e Manuel. É visível a proximidade e cumplicidade existente entre os primos, Gonçalo e Mariana, quase intimamente ambígua. Francisco apercebe-se disso.
O inesperado acontece quando, quase no fim do jantar, a electricidade falha por escassos minutos. Quando a corrente é restabelecida, Manuel cai desfalecido depois de beber o seu vinho. A autópsia denuncia que Manuel foi envenenado. À lista de suspeitos pela morte de Manuel, que compreende todos os familiares presentes no jantar, junta-se a do pessoal de serviço: Elisabete, a governanta, Amélia, a criada, e Pedro, o jardineiro. Caberá ao inspector Ramalho e o seu ajudante Maia a incumbência de investigar o crime.
Após a morte de Manuel, é posto a nu um enorme défice nas finanças da empresa familiar. Manuel envolvera-se em negócios ilícitos que correram mal e acabara por arruinar o património familiar. Manuel era gestor da fortuna da família desde a morte do pai de Teresa. Isabel tinha uma estrutura mental muito frágil e, dominada pela irmã mais velha, Teresa, que a convence a assinar uma procuração na qual transmite a Teresa o poder de decidir por ela dos negócios da família. Por essa altura, Afonso, namorado de Isabel, desaparece misteriosamente sem deixar rasto. Isabel, que está grávida, perde a razão e é internada num hospício por Teresa. Quando dá à luz Gonçalo, este é levado para a quinta por Teresa, que o toma a seu cargo. Duarte ficará sempre com a desconfiança de que Teresa e Manuel tiveram algo a ver com o súbito desaparecimento de Afonso.

O inspector Ramalho é chamado à cena do crime para resolver o mistério da morte do deputado Manuel Silveira.

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